Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia
Ana Cristina Cesar, também conhecida como Ana C., nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952 e faleceu em 29 de outubro de 1983, na mesma cidade. Foi escritora, tradutora, professora, jornalista e crítica literária. Ana C. formou-se em Letras - Português e Literatura na PUC-Rio, em 1975, e foi uma das expoentes da Poesia Marginal e da Geração Mimeógrafo, movimento literário brasileiro da década de 1970, cujas produções de escritoras e escritores eram publicadas de forma alternativa e independente, muitas vezes, utilizando o mimeógrafo como principal técnica de reprodução. Seus poemas e seus textos em prosa estão presentes na antologia 26 poetas hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976.
Em 1979, concluiu seu mestrado em Comunicação na UFRJ, cuja dissertação foi intitulada Literatura e cinema documentário. A dissertação foi publicada, na sequência, como o livro Literatura não é documento (1980). Nessa pesquisa, Ana Cristina Cesar catalogou os filmes documentários produzidos até 1978 que tratavam da vida de escritores brasileiros e/ou dos períodos literários brasileiros abordados nos filmes. Ana C. buscou identificar qual a definição de literatura e qual a visão do autor literário era posta em circulação nesses filmes.
Ainda em 1979, publicou seus livros: Cenas de abril, de poesia, e Correspondência completa, de prosa. Entre 1975 e 1982, Ana C. exerceu veementemente seu ofício como tradutora, traduzindo escritoras como Sylvia Plath, Emily Dickinson, Shere Hite, Anna Kamieńska e Katherine Mansfield. Desta última, entre 1979 e 1981, traduziu o conto Bliss, cuja tradução analisou e comentou em sua pesquisa de mestrado realizada na Universidade de Essex, na Inglaterra, de onde recebeu o título de Master of Arts (M. A.) em Theory and Practice of Literary Translation (“with distinction”). A tradução do conto de Mansfield por Ana C. foi publicada na revista Status-Plus, de São Paulo, em 1981 e, posteriormente, no livro Crítica e tradução (2016).
Algumas traduções feitas por Ana Cristina Cesar não chegaram a ser publicadas oficialmente ou foram publicadas em revistas e jornais como Folha de São Paulo, por exemplo. O livro Crítica e tradução (2016) traz uma compilação de algumas dessas traduções, tais como as de alguns dos poemas de Anthony Barnett, Emily Dickinson, Marianne Moore, Sylvia Plath e William Williams. Além desses poemas traduzidos, há a menção no livro de traduções que Ana realizou dos autores poloneses Anna Kamieńska e Czeslaw Milosz, em cotradução com Grazyna Drabik, publicados na revista carioca Religião e Sociedade. Ainda em cotradução com Drabik, Ana C. publicou na antiga revista Cadernos do Iser, os Poemas da greve e da guerra, também de poetas poloneses.
Verbete publicado em 27 de May de 2020 por:
Maria Cândida Figueiredo Moura da Silva
Willian Henrique Cândido Moura
Alinne Balduino Pires Fernandes
Poemas de Anthony Barnett. Tradução de Ana Cristina Cesar
historyHow does one raise a finger |
históriaComo se mexe um dedo |
refusal to know more than youIt is not known |
recusa de saber mais que vocêNão se sabe |
crisisDoes it matter |
criseEstou perto — |
we live with itAt night, |
durma-se com um barulho dessesÀ noite, |
CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 494-499. |
CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 494-499. |
Excerto de "Êxtase" ("Bliss"), de Katherine Mansfield. Tradução e notas de Ana Cristina Cesar.
Bliss |
Êxtase |
“No, no. I'm getting hysterical.” And she seized her bag and coat and ran upstairs to the nursery. |
“Não, não. Eu estou ficando histérica.” E ela agarrou a bolsa e o casaco e correu escada acima para o quarto do bebê. |
Nurse19 sat at a low table giving Little B her supper after her bath. The baby had on a white flannel gown and a blue woollen jacket, and her dark, fine hair was brushed up into a funny little peak. She looked up when she saw her mother and began to jump.20 |
A babá19 estava sentada numa mesa baixa dando de jantar para a pequena B. já de banho tomado. O bebê vestia uma camisolinha branca de flanela e um casaco de lã azul, o cabelo castanho muito fino penteado para cima num rabinho engraçado, e ao ver a mãe começou a pular.20 |
“Now, my love, eat it up like a good girl,” said nurse, setting her lips in a way that Bertha knew, and that meant she had come into the nursery at another wrong moment. |
“Vamos lá, meu bem, come tudo como uma boa menina”, disse a babá torcendo a boca de um jeito que Bertha já conhecia e que significava que ela havia chegado outra vez no momento errado. |
“Has she been good, Nanny?” |
“Ela ficou boazinha, babá?” |
“She's been a little sweet all the afternoon”, whispered Nanny. “We went to the park and I sat down on a chair and took her out of the pram and a big dog came along and put its head on my knee and she clutched its ear, tugged it. Oh, you should have seen her.”21 |
“Ela foi um amor a tarde toda”, murmurou a babá. “A gente foi ao parque e eu sentei e tirei ela do carrinho e apareceu um cachorro enorme e ele deitou a cabeça no meu colo e ela agarrou a orelha dele e deu um puxão, só vendo!”21 |
Bertha wanted to ask if it wasn't rather dangerous to let her clutch at a strange dog's ear. But she did not dare to. She stood watching them, her hands by her side,22 like the poor little girl in front of the rich girl with the doll. |
Bertha queria perguntar se não era perigoso deixar um bebê agarrar a orelha de um cachorro estranho. Mas não ousava, e ficou ali, olhando, as mãos abanando,22 como a menininha pobre em frente da menininha rica com a boneca. |
Nota 19:Quando uma pessoa estuda o sistema social inglês, nota certas similaridades entre a classe de padrão de vida mais alto e a classe popular: rigidez, xenofobia, indiferença pela opinião pública, paixão por corridas e jogo, gosto pela linguagem clara e por comidas simples, caseira. Jonathan Gathorne-Hardy em The Rise and the Fall of the British Nanny explica o porquê dessas características: “Nos dois últimos séculos, as classes dominantes foram criadas quase que exclusivamente por babás pertencentes à classe operária, tendo os pais abdicado de qualquer responsabilidade para com os filhos”. Transcrevi o primeiro parágrafo do capítulo sobre “The Nanny”, do livro Class, de Jilly Cooper, em que aparecem também algumas referências interessantes sobre a “relação de bajulação, amor e raiva que existe entre a esposa e a babá”. Poderíamos, assim, iniciar uma nota sociológica sobre Bertha, o bebê e a babá. No entanto, essa parte do conto não se presta a esse tipo de considerações. Além disso, é óbvia demais e falta-lhe flexibilidade. Não desperta interesse, parece que não está integrada na estrutura narrativa da história. Como tradutora, fiz o possível para que a linguagem da Nanny tivesse um tom simultaneamente coloquial e protetor, ou então, que se caracterizasse pelo uso de frases estereotipadas: na maior parte do tempo, mesmo ao falar diretamente com Bertha, a babá controla a situação, ora usando continuamente linguagem dirigida ao bebê, ora jargão típico de babá. Quanto a essa cena, lembremos que, em português, muitos diminutivos se insinuaram imperceptivelmente na linguagem usada com os bebês. “a flannel gown” / “uma camisolinha de flanela”; “a funny little peak” / “um rabinho engraçado”; “The pram” / “O carrinho”; “kissing her warm baby” / “beijando seu bebê tão quentinho” (seria impossível dizer “tão quente” nessa frase, pois poderia sugerir uma conotação de estado febril”; “her neck as she bent forward, her exquisite toes” / “seu pescocinho se inclinando para a frente, seus dedinhos do pé”. Em português não soa bem falar sobre mãos, pescoço ou dedos do pé de um bebê sem usar a forma diminutiva especialmente dentro de um contexto carinhoso. O diminutivo explica a ausência do peculiar adjetivo exquisite, visto que esta palavra descreve a perfeição dos dedinhos do bebê e também a admiração que a mãe sente. Não há nenhuma necessidade de se acrescentar um adjetivo, pois o diminutivo já é bastante expressivo. |
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Nota 20:“She looked up when she saw her mother and began to jump.” / “Ao ver a mãe começou a pular.” É uma contração radical da frase em português, que permite, igualmente, a supressão dos pronomes pessoais e possessivos. |
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Nota 21:Foi uma façanha passar para o português o tom expressivo das palavras protetoras da babá (que não denotam propriamente determinada classe social). |
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CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. Texto fonte: p. 354-355; tradução: p. 340-341; notas: p. 381-383 |
COUSTÉ, Alberto. O Tarô ou a máquina de imaginar. [Por: Ana Cristina Cesar]. Editora Ground, 1976. (El tarot o la máquina de imaginar). Esotérico.
GREIMAS, Algirdas Julien. Sobre o sentido. [Por: Ana Cristina Cesar et. al]. Petrópolis: Vozes, 2015. (Du sens). Ensaio.
HITE, Shere. O Relatório Hite sobre a sexualidade masculina. [Por: Ana Cristina Cesar]. São Paulo: Difel, 1977. (Hite Report on Male Sexuality). Sexualidade.
MANSFIELD, Katherine. Êxtase. [Por: Ana Cristina Cesar]. In: Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. (Bliss). Conto.
PLATH, Sylvia. Poemas de Sylvia Plath. Antologia de nova poesia norte-americana Quingumbo. [Traduzido por Ana Cristina Cesar]. Org. Kerry Shawn Keys, edição bilíngue. São Paulo: Escrita, 1980. (Quingumbo: New North American Poetry). Poesia.
STEVENSON, Leslie. Sete teorias sobre a natureza humana. [Por: Ana Cristina Cesar]. Rio de Janeiro: Labor do Brasil, 1976. (Seven Theories of Human Natures). Behaviorismo/Filosofia.
CESAR, Ana Cristina. Cenas de abril. Rio de Janeiro: 1979.
CESAR, Ana Cristina. Correspondência completa. Rio de Janeiro: 1979.
CESAR, Ana Cristina. Luvas de pelica. Rio de Janeiro: 1980.
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CESAR, Ana Cristina. Inéditos e dispersos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
CESAR, Ana Cristina. Antigos e soltos: poemas e prosas da pasta rosa. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2008.
CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
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