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Dicionário de tradutores literários no Brasil


Modesto Carone

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Modesto Carone, nascido em Sorocaba, em 1937, descendente de avós europeus, dedicou 20 anos de sua vida à atividade de traduzir toda a obra de ficção de um dos mais importantes autores do século XX, Franz Kafka. São obras que sempre estiveram vinculadas a sua história pessoal. Conta Modesto que ele lia Kafka desde a adolescência, mas só se lançou verdadeiramente às traduções do autor tcheco de língua alemã em 1983, ano que coincidia com o centenário de nascimento do escritor.

Foi ele quem traduziu pela primeira vez os textos kafkianos diretamente do alemão para o português, uma vez que as traduções anteriores no Brasil eram feitas a partir do francês, espanhol ou inglês.

Carone estudou Direito e Letras Anglo-Germânicas na Universidade de São Paulo. Foi professor na Unicamp e Universidade de São Paulo, em ambas no Departamento de Teoria Literária. Aperfeiçoou seus conhecimentos da língua alemã quando viveu três anos na Aústria, como professor de Língua e Cultura Brasileira na Universidade de Viena.

Ser tradutor e professor incentivou-o a se dedicar a uma atividade, escrever, podendo assim criar suas próprias obras de ficção. A dedicação foi tanta que sua produção literária é considerada uma das melhores da Literatura Brasileira contemporânea (segundo  Renato Roschel da Folha da Manhã). Modesto Carone recebeu em 1980 e 1999 o prêmio Jabuti pelas obras As Marcas do Real e Resumo de Ana, respectivamente.

Carone admite que, depois de 20 anos de convívio próximo de Kafka, certas marcas do seu estilo e de sua visão de mundo ficaram presentes em [seu] trabalho literário.

Para Modesto, o trabalho do tradutor sempre implicou fidelidade à língua de partida, encontrando possíveis equivalências na língua de chegada, mas ele só foi comprovar na prática que essas equivalências realmente existiam ao traduzir A Construção, de Kafka, cujas dificuldades o fascinaram e incentivaram tanto que ele não deixou mais de traduzir.

Verbete publicado em 26 de June de 2005 por:
Manuela Acássia Accácio
Werner Heiderman

Excertos de traduções

Fragmento de Carta ao pai, romance de Franz Kafka. Tradução de Modesto Carone:

Liebster Vater,

Querido Pai,

Du hast mich letzthin einmal gefragt, warum ich behaupte, ich hätte Furcht vor Dir. Ich wußte Dir, wie gewöhnlich, nichts zu antworten, zum Teil eben aus der Furcht, die ich vor Dir habe, zum Teil deshalb, weil zur Begründung dieser Furcht zu viele Einzelheiten gehören, als daß ich sie im Reden halbwegs zusammenhalten könnte. Und wenn ich hier versuche, Dir schriftlich zu antworten, so wird es doch nur sehr unvollständig sein, weil auch im Schreiben die Furcht und ihre Folgen mich Dir gegenüber behindern und weil die Größe des Stoffs über mein Gedächtnis und meinen Verstand weit hinausgeht.

Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas conseqüências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapasse de longe minha memória e meu entendimento.

Dir hat sich die Sache immer sehr einfach dargestllt, wenigstens soweit Du vor mir und, ohne Auswahl, vor vielen andern davon gesprochen hast. Es schien Dir etwa so zu sein: Du hast Dein ganzes Leben lang schwer gearbeitet, alles für Deine Kinder, vor allem für mich geopfert, ich habe infolgedessen in Saus und Braus gelegt, habe vollständige Freiheit gehabt zu lernen was ich wollte, habe keinen Anlaß zu Nahrungssorgen, also zu Sorgen überhaupt gehabt; Du hast dafür keine Dankbarkeit verlangt, Du kennst die Dankbarkeit der Kinder, aber doch wenigstens irgendein Entgegenkommen, Zeichen eines Mitgefühls; statt dessen habe ich mich seit jeher vor Dir verkrochen, in mein Zimmer, zu Büchern, zu verrückten Freunden, zu überspannte Ideen; offen gesprochen habe ich mit Dir niemals, in den Tempel bin ich nicht zu Dir gekommen, in Franzensbad habe ich Dich nie besucht, auch sonst nie Familiensinn gehabt, um das Geschäft und Deine sonstige Angelegenheiten habe ich mich nicht gekümmert, die Fabrik habe ich Dir aufgehalst und Dich dann verlassen, Ottla habe ich in ihrem Eigensinn unterstützt und während ich für Dich keinen Finger rühre (nicht einmal eine Theaterkarte bringe ich Dir), tue ich für Freunde alles. Fa\vt Du Dein Urteil über mich zusammen, so ergibt sich, daß Du mir zwar etqwas geradezu Unanständiges oder Böses nicht vorwirfst (mit Ausnahme vielleicht meiner letzten Heiratsabsicht), aber Kälte, Fremdheit, Undankbarkeit. Und zwar wirfst Du es mir so vor, als wäre es meine Schuld, als hätte ich etwa mit einer Steuerdrehung das Ganze anders einrichten können, während Du nicht die geringste Schuld daran hast, es wäre denn die, daß Du zu gut zu mir gewesen bist.

Para você a questão sempre se apresentou em termos muito simples, pelo menos considerando o que falou na minha presença e, indiscriminadamente, na de muitos outros. Para você as coisas pareciam ser mais ou menos assim: trabalhou duro a vida toda, sacrificou tudo pelos filhos, especialmente por mim, e graças a isso eu vivi à larga, desfrutei de inteira liberdade para estudar o que queria, não precisei ter qualquer preocupação com o meu sustento e portanto nenhuma preocupação; em troca você não exigiu gratidão - você conhece a gratidão dos filhos mas pelo menos alguma coisa de volta, algum sinal de simpatia; ao invés disso sempre me escondi de você, no meu quarto, com os meus livros, com amigos malucos, com idéias extravagantes, nunca falei abertamente com você, no templo não ficava a seu lado, nunca o visitei em Franzensbad,* aliás nunca tive sentido de família, não dei atenção à loja nem aos seus outros negócios, a fábrica eu deixei nas suas costas e depois o abandonei, apoiei a obstinação de Ottla** e, se por um lado não movo um dedo por você (nem uma entrada de teatro eu lhe trago), pelos amigos eu faço tudo. Se você fizesse um resumo do que pensa de mim, o resultado seria que na verdade não me censura de nada abertamente indecoroso ou mau (exceto talvez meu último projeto de casamento), mas sim de frieza, estranheza, ingratidão; E de fato você me recrimina por isso como se fosse culpa minha, como se por acaso eu tivesse podido, com uma virada do volante, conduzir tudo para outra direção, ao passo que você não tem a mínima culpa, a não ser talvez o fato de ter sido bom demais para mim.

 

(*) Balneário no noroeste da Boêmia, onde os pais de Kafka costumavam passar as férias de verão. (N.T.)

(**) Irmã caçula de Kafka, sua predileta. (N.T.)

Kafka, Franz. Brief an den Vater. In: Gesammelte Werke. Herausgegeben von Max Brod. Taschenbuchausgabe in sieben Bänden. Frankfur am Main: Fischer Taschenbuch Verlag, 1983, pp. 119-120

Kafka, Franz. Carta ao Pai. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, pp. 7-8.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Adorno, Theodor W. "Posição do Narrador no romance contemporâneo". [Por: Modesto Carone]. In: Benjamim, Walter et al. Textos escolhidos. [Por: José Lino]. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 269-273. (Os Pensadores). Ensaio.

Anders, Günther. Kafka: Pró e contra. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Perspectiva, 1993. 106 p. Introdução de Modesto Carone. Bibliografia.

Kafka, Franz. Um artista da fome; A construção. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1984. 110 p. (Ein Hungerkünstler; Der Bau). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. A metamorfose. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1985. 96 p. (Die Verwandlung). Posfácio de Modesto Carone. Conto.

Kafka, Franz. Carta ao pai. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1986. 81 p. (Brief an den Vater). Posfácio de Modesto Carone. Histórias curtas.

Kafka, Franz. O veredicto; Na colônia penal. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1986. 92 p. (Das Urteil; In der Strafkolonie). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. O processo. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1988. 292 p. (Der Prozess). Posfácio de Modesto Carone. Prêmio Jabuti de tradução de 1989. Romance.

Kafka, Franz. Contemplação e o Foguista. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense,1991. 107 p. (Betrachtung und der Heizer). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. Um médico rural: pequenas narrativas. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1991. 76 p. (Ein Landarzt: Kleine Erzählungen). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. O castelo. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 482 p. (Das Schloss). Posfácio de Modesto Carone. Romance.

Kafka, Franz. Narrativas do espólio (1914-1924). [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 224 p. (Erzählungen aus dem Nachlass). Posfácio de Modesto Carone. Relatos.

 

Adorno, Theodor W. "Posição do Narrador no romance contemporâneo". [Por: Modesto Carone]. In: Benjamim, Walter. et al. Textos escolhidos. [Por: José Lino]. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 269-273. (Os Pensadores). Ensaio.

Anders, Günther. Kafka: Pró e contra. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Perspectiva, 1993. 106 p. Introdução de Modesto Carone. Bibliografia.

Kafka, Franz. Um artista da fome; A construção. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1984. 110 p. (Ein Hungerkünstler; Der Bau). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. A metamorfose. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1985. 96 p. (Die Verwandlung). Posfácio de Modesto Carone. Conto.

Kafka, Franz. Carta ao pai. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1986. 81 p. (Brief an den Vater). Posfácio de Modesto Carone. Histórias curtas.

Kafka, Franz. O veredicto; Na colônia penal. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1986. 92 p. (Das Urteil; In der Strafkolonie). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. O processo. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1988. 292 p. (Der Prozess). Posfácio de Modesto Carone. Prêmio Jabuti de tradução de 1989. Romance.

Kafka, Franz. Contemplação e o Foguista. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense,1991. 107 p. (Betrachtung und der Heizer). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. Um médico rural: pequenas narrativas. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Brasiliense, 1991. 76 p. (Ein Landarzt: Kleine Erzählungen). Posfácio de Modesto Carone. Histórias longas.

Kafka, Franz. O castelo. [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 482 p. (Das Schloss). Posfácio de Modesto Carone. Romance.

Kafka, Franz. Narrativas do espólio (1914-1924). [Por: Modesto Carone]. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 224 p. (Erzählungen aus dem Nachlass). Posfácio de Modesto Carone. Relatos.

 

 

Obra própria

Carone, Modesto. Metáfora e Montagem: um estudo sobre a poesia de Georg Trakl. São Paulo: Perspectiva, 1974. 174 p.

Carone, Modesto. A poética do silêncio: João Cabral de Melo Neto e Paul Celan. São Paulo: Perspectiva, 1979. 128 p.

Carone, Modesto. As Marcas do Real. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 136 p. Contos. Orelha de Antônio Cândido. Prêmio Jabuti de 1980.

Carone, Modesto. Aos Pés de Matilda. São Paulo: Summus, 1980. 104 p. Contos.

Carone, Modesto. Os pobres na literatura brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983. 246 p. Organização de Roberto Schwarz. Ensaio.

Carone, Modesto. Dias Melhores. São Paulo: Brasiliense, 1984. 93 p. Contos.

Carone, Modesto. "Nas garras de Praga". In: Folha de S. Paulo, São Paulo, 03 jan. 1993. Caderno Mais!, p. 4-5. Artigo.

Carone, Modesto. Resumo de Ana. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 114 p. Romance. Prêmio Jabuti de 1999.

Carone, Modesto. "Avalovara: Precisão e Fantasia". In: Revista Literatura e Sociedade, São Paulo: USP/FFLCH/DTLLC, p. 276-281, 2001-2202. Artigo.

Prefácio

Auerbach, Erich. Figura. [Por: Duda Machado]. São Paulo: Ática, 1997. 86 p. Prefácio de Modesto Carone. Estudos.

 

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