Safa Alferd Abou Chahla Jubran :: DITRA - Dicionário de tradutores literários no Brasil :: 
Dicionário de tradutores literários no Brasil


Safa Alferd Abou Chahla Jubran

Perfil | Excertos de traduções | Bibliografia

Safa A. Abou Chahla Jubran nasceu em 15 de novembro de 1962, no Líbano, e é naturalizada brasileira. Professora, pesquisadora. escritora e tradutora do árabe e do inglês, diplomou-se em Língua e Literatura Árabe na Universidade de São Paulo, em 1990.

Começou a carreira de professora no Departamento de Letras Orientais, Curso de Árabe, em 1992. Doutorou-se em Linguística pela Universidade de São Paulo, com a tese: Aspectos contrastivos fonético-fonológicos do árabe e do português: sistematização dos dados em aplicativo multimídia.

Reside no Brasil desde 1983, tem o árabe como língua nativa, domina o inglês, o espanhol e o português que aprendeu no Brasil.

A pedido das editoras traduziu várias obras literárias além de um manuscrito que fez parte do Livro do Tesouro de Alexandre: um estudo de hermética árabe na oficina da História da Ciência junto com Ana Maria Alfonso-Goldfarb, autora do livro, em 1999. Atualmente traduz manuscritos árabes antigos de ciência como parte de sua pesquisa. Fez traduções técnicas de embalagens de produtos exportados e softwares, mas se destacou nas traduções literárias de contos e romances feitas diretamente a partir do árabe.

Safa Jubran é autora de livro de linguística sobre o contraste entre a fonologia do árabe e do português e tem vários artigos publicados em periódicos, revistas, jornais, além do posfácio do livro O Profeta de Gibran Kahlil Gibran

Atualmente é docente efetiva na USP e tem como projeto traduzir em parceria com seus colegas o máximo de boas obras da literatura árabe e disponibilizá-las em português para o público brasileiro.

Verbete publicado em 25 de April de 2008 por:
Lilia L. C. Agnes
Andréia Guerini

Excertos de traduções

Fragmento de Porta do Sol, de Elias Khoury. Tradução de Safa A-C Jubran

(...)

(...)

Deixou-o dormir e se foi. Antes de partir, repetiu o convite no olhar e ele repetiu o sorriso pedindo para dormir por meia hora apenas. Ela foi até o canto da caverna, lavou os pratos e quando voltou, ele estava imerso num sono profundo. Deixou-o e foi para casa.

تركته ينام ومضت. قبل ان ينام، كررت دعوتها له بعينيها، وكرر ابتسامته طالباً ان ينام نصف ساعة فقط. ذهبت الى ركن المغارة، جلت الاطباق، وحين عادت وجدته يغطّ في نوم عميق، تركته ورحلت الى بيتها.

Quando Yunis acordou ela não estava lá. As sombras da tarde estavam espalhadas nas colinas. Encheu seu cantil, guardou suas coisas na mochila, levou os dois pães deixados por Nahila e partiu para o Líbano.

حين استيقظ يونس لم يجدها، وكانت ظلال المساء تنتشر فوق التلال. وجد نفسه يعبئ مطرته ماء، يلمّ حقيبته واضعاً فيها رغيفي الخبز اللذين تركتهما نهيلة، ويمضي الى لبنان.

Voltou a visitá-la após aquela noite da oliveira romana?

هل عاد الى زيارتها بعد ليلة الزيتونة الرّومية؟

Ele disse que sim, mas eu desconfio. A vida de Yunis mudou muito depois daquela viagem. Após a revolução ter se transformado numa instituição que parecia Estado, ele se tornou parte do Estado. Viajava com as comitivas oficiais, telefonava para sua família de várias capitais do mundo, depois passou a ser membro da liderança do Fatah no Líbano, seus dias ficaram ocupados, especialmente depois dos massacres de setembro de 1970, na Jordânia, o que tornou Líbano o único lugar para a resistência palestina, após a migração das lideranças palestinas de Amã a Beirute.

قال انه عاد، وانا اشكّ في كلامه. فحياة يونس تغيرت كثيراً في تلك المرحلة. فبعد تحول الثورة مؤسسة تشبه الدولة، صار جزءاً من الدولة. سافر في الوفود الرسمية، اتصل بعائلته تلفونياً من شتّى العواصم، ثم اصبح عضواً في قيادة اقليم فتح في لبنان، وامتلأت ايامه، خاصة بعد مذابح ايلول 1970 في الاردن، وتحول لبنان مكاناً وحيداً للمقاومة الفلسطينية، على اثر هجرة القيادات الفلسطينية من عمان وبيروت.

Yunis tornou-se parte dessa maquina enorme e não era mais aquele combatente que vagava entre os campos de Ein-Elhelwe no sul, e Chatila e Burj-Albarajne em Beirute. Mas, a verdade seja dita, era diferente. Nunca exibiu traços de riqueza que as outras lideranças palestinas ostentavam, permaneceu o camponês que era e gostava de ser.

صار يونس جزءا من تلك الآلة الضخمة، ولم يعد ذلك الفدائي المشرّد بين مخيم عين الحلوة في الجنوب، وفي مخيمي شاتيلا وبرج البراجنة في بيروت، لكنه، والحق يقال، كان مختلفاً. لم تظهر عليه علامات الثراء التي ظهرت على اغلبية القياديين الفلسطينيين، وبقي فلاحاً كما كان وكما يحب ان يكون.

Yunis tentou conciliar a nova vida com suas convicções. Talvez não tenha obtido muito êxito, mas conseguiu preservar sua imagem, sendo Abu-Salim, lobo das montanhas, que conhecia aquele país como ninguém e o dono de uma história incomparável a nenhuma outra.

حاول يونس التوفيق بين حياته الجديدة واقتناعاته. ربما لم ينجح كثيراً، لكنه حافظ على صورته، بوصفه ابو سالم، ذئب الجليل، الذي يعرف تلك البلاد، كما لا يعرفها احد، والذي يملك قصّة لا تشبه اية قصة اخرى.

Será que sua história se iniciou com aquela viagem?

هل بدأت حكايته في تلك المرحلة؟

Não sei, pois eu não conhecia antes daquela viagem. Sim, o conheci, mas eu era criança, não era capaz ainda de entender as coisas nem compreender seus significados. Conheci-o bem no início dos setenta quando já era lenda. Conheci-o como aquele homem que plantava suas crianças na Galiléia e lutava por sua libertação.

لا اعرف، فأنا لا اعرفه قبل تلك المرحلة. بلى اعرفه، لكني كنت صغيراً، ولم اكن استطيع فهم الاشياء واستيعاب معانيها. عرفته جيداً مع بداية السبعينات، وكان قد اصبح حكاية. عرفته بوصفه ذلك الرجل الذي يزرع اطفاله في الجليل، ويقاتل من اجل تحريرهم.

Mas me perguntava, parado diante daquela enxurrada de fotos que cobriam a parede do quarto de dormir: Teria a história começado quando terminou? Teria ele começado a contar para as pessoas sobre Nahila, quando deixou de visitá-la?

ولكني اتساءل، واقفاً تحت مطر الصور التي تغطي جدران غرفة النوم، هل بدأت الحكاية حين انتهت؟ هل صار يروي للناس عن نهيلة، حين انقطع عن زيارتها؟

Eu não sei.

لا أعرف.

Ele disse que continuou indo para lá até 1978, quando os israelenses, em março daquele ano, ocuparam uma parte do sul do Líbano anunciando a instituição de um estado que pertencia a eles, a que denominaram “Estado do Líbano Livre”. Não era nada mais do que uma estreita faixa de terras libanesas constituindo uma zona de separação entre os fedayyin e os assentamentos da Galiléia, que estavam expostos ao bombardeio dos foguetes Katyusha.

قال انه تابع زيارته الى هناك حتى عام 1978، حين قام الاسرائيليون في آذار من ذلك العام، باحتلال جزء من الجنوب اللبناني، اقاموا عليه دويلة تابعة لهم، اطلقوا عليهم اسم "دولة لبنان الحرّ". وهي لم تكن اكثر من شريط ضيق من الاراضي اللبنانية، شكّل منطقة عازلة، بين الفدائيين ومستعمرات الجليل، التي كانت تتعرض لقصف صواريخ الكاتيوشا.

Disse que a ocupação fechou as portas de infiltração na sua cara. Começou a entrar em contato com Nahila e seus filhos pelo telefone. Contou-me muito de suas viagens e das três pequenas Nahilas que nasceram em Deir-Alassad. Nahila, filha de Nur; Nahila, filha de Sálim; e Nahila, filha de Sálih.

قال انه مع الاحتلال، اغلق ابواب التسلل في وجهه، وصار يتصل باولاده ونهيلته تلفونياً. حدثني كثيراً عن اسفاره، وعن ثلاث نهيلات صغيرات ولدن في دير الاسد. نهيلة ابنة نور، ونهيلة ابنة سالم، ونهيلة ابنة صالح.

Contou que ligava para todas suas Nahilas e que ele recebia suas fotografias através de um amigo dele em Chipre e que ele vivia com eles sem vê-los. Viveu com as fotografias. “O telefone não permite meu filho, o que você pode dizer ao telefone? Nada além de coisas gerais e expressões prontas. Conversa de telefone não é conversa”.

قال انه صار يتلفن لنهيلاته جميعاً، وانه كان يتلقى صورهم على عنوان احد اصدقائه في قبرص، وانه عاش معهم دون ان يراهم. عاش مع الصور. "فالتلفون لا يسمح يا ابني، ماذا تقول في التلفون؟ في التلفون لا تقول سوى اشياء عامة وصيغ جاهزة. كلام التلفون لا ليس كلاماً".


Khoury, Elias. Porta do Sol. [Por: Safa A-C Jubran]. Rio de Janeiro, Editora Record, 2008, pp. 393-394. (Bab Alchams). Romance.

الخوري، الياس. باب الشمس. بيروت، دار الآداب. 1998

Khoury, Elias. Bab Alchams. Beirute: Dar-Aladáb, 1998.

Bibliografia

Traduções Publicadas

Khoury, Elias. Porta do Sol. [Por: Safa A-C Jubran]. Rio de Janeiro, Record, 2008. (Bâb Al-Chams). Romance.

Barghouthi, Mourid. Eu Vi Ramallah. [Por: Safa A-C Jubran]. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006. (Ra’aitu Ramallah). Romance.

Saleh, Tayeb. Tempo de migrar para o norte. [Por: Safa A-C Jubran]. São Paulo: Planeta, 2004. (Mawsim Al-hijra ila al-chimal). Romance.

Hatoum, Milton. Chaqiqan. [Por Safa A-C Jubran]. Beirute: Dar Al-Farabi, 2002. (Dois irmãos). Romanceo.

Mahfuz, Naguib. Miramar. [Por: Safa Abou Chahla Jubran]. São Paulo. Berlendis & Vertecchia, 2003. (Miramar). Romance.

Alfonso-Goldfarb, A. M. Livro do Tesouro de Alexandre: um estudo de hermética árabe na oficina da História da Ciência. [Por: Safa Jubran & A.M. Alfonso-Goldfarb]. Petrópolis: Vozes, 1999. (Kitâb Thakhîrat Al Iskandar). Manuscrito árabe medieval.

Salwa Al-Naimi. Prova do mel. [Por: Safa A-C Jubran]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. (Burhân Al-‘asal). (Romance).

Gamal Ghitany. O Chamado do poente. [Por: Safa A-C Jubran]. São Paulo: Estação Liberdade, 2013. (Hâtif Al- Maghîb). Romance.

Alaa Al Aswany. E nós cobrimos seus olhos. [Por: Safa A-C Jubran]. São Paulo:Companhia das Letras, 2013. (Nîran Sadîqa), Romance.

Khoury, Elias. Yalo. [Por: Safa A-C Jubran]. Rio de Janeiro, Record, 2012. (Yalo). Romance.

Sâ’id AlAndalusi. Hierarquia do povos. [Por: Safa A-C Jubran]. Sâo Paulo: Amaral-Gurgel, 2011. (Tabaqât Al-‘Umam). Mansucrito medieval árabe

David Cowan. Gramática do Árabe Moderno. [Por: Safa A-C Jubran]. São Paulo: Globo, 2007.

Obra própria

Jubran, S. A. A. C. Árabe e Português: Fonologia Contrastiva. São Paulo: EDUSP/FAPESP/CEAR, 2004.

Apresentação | Créditos | Contato | Admin

ISBN:   85-88464-07-1

Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Comunicação e Expressão

Apoio:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Última atualização desta página

©2005-2024 - NUPLITT - Núcleo de Pesquisas em Literatura e Tradução

Site melhor visualizado em janelas com mais de 600px de largura disponível.